Imagem: Reprodução/TV Cultura
Sessenta e duas. Esse foi o número de vezes que a pré-candidata à presidência Manuela D’Ávila (PCdoB) foi interrompida durante o programa Roda Viva, exibido ontem, dia 25 de junho, pela TV Cultura. A título de comparação, o presidenciável Ciro Gomes (PDT) foi interrompido apenas oito vezes pelos entrevistadores quando passou pela sabatina. O programa foi criticado por diversas juristas e militantes do movimento feminista nas redes sociais.
“Essas perguntas para Manuela D’Ávila nunca seriam feitas da mesma forma para homens”, disse a escritora Lia Vainer Schucman. “De um machismo bizarro. Eu estou com muita raiva assistindo isso”. A procuradora do Estado e Conselheira Estadual da Condição Feminina Margarete Pedroso também ressaltou a diferença de tratamento dado aos entrevistados homens: “Não me lembro de nenhum dos programas do Roda Viva, desde quando iniciou as entrevistas com pré-candidatos à presidência, haver tantas interrupções nas falas e tantos impedimentos para concluir raciocínio como hoje”.
“Nunca me lembro de ter visto um entrevistado ser tão interrompido no Roda Viva. E nunca de forma tão desrespeitosa. Fariam isso com um candidato homem?”, questionou o professor de Direito Penal na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Salo de Carvalho. Silvio Almeida, Doutor em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela USP, e autor de O que é racismo estrutural? também se manifestou em solidariedade a Manuela: “Foi violência pura, um show de machismo e desrespeito, uma covardia que duvido que se repetiria com um homem”.
Além de não deixarem a Manuela responder às perguntas, os entrevistadores preferiram focar no ex-presidente Lula, mais do que na carreira e propostas de governo. A pergunta “Você considera Lula inocente?”, por exemplo, foi feita cinco vezes à candidata. Sobre isso, a pré-candidata foi enfática: “Todos aqui sabemos que Lula está preso porque é o primeiro nas pesquisas”.
Manterrupting: o hábito masculino de interromper as mulheres
Em artigo publicado pelo Justificando, a juíza do Trabalho do TRT da 15ª Região Roselene Aparecida Taveira, abordou os conceitos de manterrupting e mansplaining, que dão conta de explicar o que aconteceu com Manuela no programa de ontem. Para Roselene, a linguagem é uma ferramenta de dominação, e reafirmou a tendência de silenciamento das mulheres pelos homens.
“O manterrupting vem da junção das palavras man (homem) e interrupting (e interrupção), significa “homens que interrompem”. Isso ocorre quando a mulher não consegue concluir as frases e reflexões, dada a interrupção masculina. É mais do que comum esse tipo de abordagem e aqui podemos chamar de interrupção de fala masculina.”
“Já o mansplaining é a soma de man (homem) e explaining (explicar). Ocorre quando o homem tenta explicar de forma didática algo que a mulher já conhece ou quando tenta demonstrar para a mulher que está errada, quando está correta. É o típico ‘desenhar’ masculino, na tentativa de demonstrar a sua pretendida superioridade intelectual em relação a algum tema. Podemos aqui traduzir como explicação masculina.”
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Por: Lígia Bonfanti