A Fundação Perseu Abramo lançou, na última quinta-feira, dia 5 de julho, o primeiro número de seu Dossiê das Periferias. Com três eixos temáticos – cultura, trabalho e violência -, o trabalho tem por objetivo a divulgação do projeto Reconexão Periferias. O material pode ser obtido, gratuitamente, em formato de ebook, no site da Fundação.
“Os movimentos de periferia são a vanguarda da resistência ao conservadorismo no Brasil”, avalia o coordenador do projeto e colunista do Justificando, Paulo Ramos. Com esse ponto de vista em mente, o projeto Reconexão Periferias visa qualificar o debate e as políticas públicas em torno das agendas das periferias, por meio de pesquisa, seminários, oficinas e encontros temáticos. “Numa sociedade que é extremamente fragmentada, estratificada, segregada, nós procuramos dar uma contribuição que dá voz a uma série de narrativas e reivindicações”.
O número inaugural do dossiê traz o tema da cultura, sob o título Cultura e reexistências nas periferias. Juliana Borges, colunista d Justificando, pesquisadora em Antropologia e uma das autoras do dossiê, explica o conceito de “reexistência”: “Ele significa o movimento de reinvenção, de reformulação, de não ser simplesmente determinado a partir do olhar do outro, mas também uma forma de se apresentar, de apresentar o que pensa sobre si”. Para Juliana, essa é uma ideia cada vez mais importante. “A gente percebe muito isso na contemporaneidade. Esses sujeitos, esses corpos periféricos, começam a se colocar e a disputar a ideia que se tem da periferia, e começam a ressignificar o que é ser periférico”.
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Curtir funk, só na Vila Madalena
Um dos aspectos tratados no primeiro número do dossiê é a mobilidade cultural versus a mobilidade dos sujeitos. Para Juliana, existe um paradoxo quando se fala da diversidade cultural brasileira na construção de nossa identidade nacional. “Você se utiliza de elementos como a capoeira, o samba, a feijoada, que todo mundo diz que é parte da identidade brasileira, mas você desvaloriza os sujeitos que foram os autores, que efetivaram essas produções”.
Segundo Jaqueline Santos, militante do movimento negro, doutoranda em Antropologia e uma das autoras do dossiê, esse paradoxo também está presente da produção cultural contemporânea, como o funk: “O exemplo institucional que a gente tem são os estados de São Paulo, do Rio de Janeiro, e até na esfera federal, com vários projetos de lei para proibir os bailes funk. Ao mesmo tempo, o funk é celebrado por grupos socialmente favorecidos. Aqui em São Paulo mesmo, só na Vila Madalena, existem dois bares onde um segmento específico ouve funk a noite inteira, de maneira segura, enquanto o jovem da periferia é atacado pela truculência de um braço do estado”.
O Projeto
O Dossiê das Periferias busca, dentro de cada eixo temático, apresentar três cenários: o vigente, onde apresenta-se o percurso do tema e os resultados esperados se continuarmos no mesmo caminho; o cenário projetado, com o avanço do conservadorismo e as problemáticas decorrentes; e o cenário ideal, que deveria orientar as políticas públicas conforme perspectivas progressistas. Esta última explora teses vigentes e uma projeção com a implementação das mesmas.
O próximo número discutirá o tema do trabalho, sob a perspectiva não apenas do trabalho formal, mas também daquele realizado na “informalidade”. Em seguida, será discutido o tema da violência. Além de Jaqueline Santos e Juliana Borges, também assinam a autoria do dossiê Danilo Morais, doutor em Sociologia, e Danilo Cardoso, mestre em Geografia.
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