Foto: University of California.
Fonte: Agência EFE e Radioagência Nacional.
A Terra corre o risco de cair em um estado estufa irreversível devido ao aquecimento global, o que tornaria inabitável vários lugares do planeta, alertou nesta terça-feira um estudo internacional.
Uma pesquisa liderada por Will Steffen, da Universidade Nacional da Austrália (ANU, sigla em inglês), adverte que esta situação pode resultar em temperaturas a cinco graus acima da era pré-industrial e que o aumento do nível do mar suba a longo prazo entre 10 e 60 metros.
Em agosto de 2018 o consumo de recursos naturais já superou o que o planeta pode renovar no ano
Atualmente, a temperatura média global é um pouco mais de um grau superior ao da era pré-industrial e aumenta 0,17 graus a cada década.
Steffen observou que, se as temperaturas aumentarem dois graus devido às atividades humanas, alguns processos poderão ser ativados nos sistemas da Terra, chamados de processos de retroalimentação, que podem desencadear um maior aquecimento global, mesmo que os gases que causam o efeito estufa deixem de ser emitidos por nós.
A verdadeira preocupação é que estes elementos críticos possam agir como uma fileira de dominós. Uma vez que é empurrado, a fileira empurra a Terra toda. Pode ser muito difícil ou impossível deter toda a fileira de dominós
Disse Steffen, em um comunicado da ANU.
Estes elementos de retroalimentação incluem descongelamento do pergelissolo (solo permanentemente congelado), a perda de metano hidratado das águas marinhas, o enfraquecimento de carbono fixado em terra e no mar e o aumento da respiração bacteriana nos oceanos. Também incluem a morte regressiva da floresta amazônica e da floresta boreal, a redução da camada de neve no hemisfério norte, a perda de gelo marinho no verão ártico, assim como a redução do gelo marinho antártico e as camadas de gelo polar.
Os pesquisadores consideram que a ativação em cadeia destes retroalimentadores poderia liberar incontrolavelmente o carbono que foi armazenado anteriormente na Terra.
É improvável que os esforços atuais, que não são suficientes para cumprir os objetivos do Acordo de Paris, ajudem a evitar esta situação perigosa na qual muitas partes do planeta poderiam se transformar em inabitáveis para os humanos.
Advertiu Steffen.
O Acordo de Paris, assinado em 2015 por cerca de 200 países, procura manter o aumento da temperatura média mundial abaixo de 2°C em relação ao nível pré-industrial.
Steffen pediu a aceleração da transição para uma economia global verde em seu estudo que foi publicado na revista científica “PNAS” e envolveu cientistas da Suíça, Dinamarca, Reino Unido, Bélgica, Estados Unidos, Alemanha e Holanda.
Colapso da biodiversidade
Pesquisadores brasileiros chegaram a conclusões parecidas às do estudo de Steffen. Em artigo publicado na revista científica Nature, Cientistas do Museu Paraense Emílio Goeldi que integram uma equipe multidisciplinar que estuda o futuro dos ecossistemas tropicais, alertam para o colapso da biodiversidade no planeta.
O artigo mostra que, em todos os ecossistemas tropicais, muitas espécies são ameaçadas duplamente por pressões humanas. Os estudos destacam a necessidade de ações urgentes para recuperar e proteger essas áreas vitais.
Integrante da equipe e uma das autoras do artigo, a pesquisadora Cecília Gontijo Leal explica que os trópicos ocupam apenas 40% do planeta e abrigam mais de três quartos de todas as espécies, incluindo quase todos os corais de águas rasas e mais de 90% das espécies de aves existentes.
A maioria dessas espécies não é encontrada em nenhum outro lugar e milhares são desconhecidas da ciência.
Cecília também defende a necessidade de ações rápidas e valorização das entidades de pesquisa no Brasil.
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