Foto: Gabriel Mothé.
Sigo a Cristo e acredito que o amor vence o ódio – Frase contida nos adesivos distribuídos no ato organizado pelo “Coletivo Cristão: O Amor vence o Ódio”, em 18/10, no Rio, reflete a postura de seguidores de cristo frente ao apoio de candidatos fascistas nas igrejas
Por Karine Fernandes
Na noite da última quinta-feira (18), estive no evento “O Amor vence o Ódio – Caminhada e Vigília”, no Centro do Rio de Janeiro, e pude, pela primeira vez em meus 26 anos de vida, acompanhar um ato ecumênico – apesar de ter sido organizado por cristãos -, que reunia objetivos para além dos religiosos: uma manifestação política que posiciona o amor, ensinado nas mais diversas crenças, como o instrumento principal para vencer a crescente de ódio que culminou nas eleições deste ano.
Como mulher, negra, oriunda de periferia, já havia esbarrado em algumas situações perversas, com a chancela tanto dos representantes da igreja quanto dos poderosos governantes, pautadas numa total deturpação do cristianismo e na má utilização da política para garantir benefícios próprios e conservação do status quo, todavia, de maneira menos escancarada.
Até alguns anos atrás – mais precisamente até as eleições de 2014 –, notava a instituição sempre se colocando em um lugar de neutralidade (que hoje enxergo como uma coadunação disfarçada de isenção), entretanto, de lá pra cá, e principalmente neste ano, percebo o aumento da participação das igrejas na política – geralmente estando em concordância com barbáries –, não só por inúmeros líderes estarem hoje ocupando cadeiras no congresso e assembleias legislativas, o que já acontece há anos, mas, também, pelo fato de púlpitos e membros serem usados para a manutenção de poder de candidatos ditos “cristãos”.
Contudo, em meio a essa multidão, também existia aquele pequeno grupo que havia entendido a verdadeira mensagem de amor, graça e misericórdia do evangelho. Existiam mulheres e homens que eram contra as maldades praticadas às custas de uma religiosidade que via Deus como um ser que praticava a justiça com ira. Neste outro lado, analogicamente, eu enxerguei os irmãos e irmãs que andaram da Igreja da Candelária até o Largo da Carioca e se ajoelharam, juntos, intercedendo pelo país e por forças para continuar a ser contracultura dentro do cristianismo.
Vi cristãs e cristãos que, alcançados pelo centro da mensagem do evangelho, o amor, entenderam que a sua missão é anunciar as boas novas do reino já aqui nesta vida. É semear o amor, a paz, a bondade, a esperança, a tolerância. É ansiar o fim das desigualdades; é promover justiça social; é lutar por direitos humanos. É estar em favor da vida, da liberdade, da solidariedade, da democracia e da dignidade humana.
Fui capaz de ver, dentro da diversidade daquele grupo, a unidade não somente pela roupa branca e velas acesas que levavam nas mãos, mas de um só coração e propósito: pessoas comprometidas com Jesus Cristo e, por causa de seus valores, compromissadas com a defesa do Estado democrático de direito no Brasil. Consegui perceber gente que, decepcionada com suas lideranças religiosas, encontrou alento ao se deparar com um movimento no qual identifica a palavra de Jesus. Pessoas que, aparentemente abatidas, recuperaram o ânimo que havia perdido nos últimos meses ao receber um sorriso, um abraço ou aperto de mão, ouvir uma palavra encorajadora dos muitos líderes que estiveram no ato, cantar, orar e chorar junto.
Muito mais do que um posicionamento cristão em defesa da democracia e contra princípios anticristãos, o ato teve caráter de hospitalidade, tanto para aqueles que não professam a mesma fé e poderiam ver uma outra face dos cristãos – os quais não podem ser generalizados pela hegemonia –, quanto para aqueles que, pela árdua caminhada na vida cristã, necessitavam renovar seu ânimo e resistir em tempos de aflição. Assim como nos é recomendado em 3 João 1:8, que diz “Portanto, devemos acolher esses irmãos, para nos tornarmos cooperadores da verdade”, os participantes do evento permearam a Avenida Rio Branco com o “Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28).
Karine Fernandes é formada em Comunicação Social, com habilitações em Jornalismo e Relações Públicas (FACHA) e pós-graduanda em Comunicação Organizacional Integrada (ESPM-Rio).
Leia mais:
Assinando o plano +MaisJustificando, você tem acesso integral aos cursos Pandora e ainda incentiva a nossa redação a continuar fazendo a diferença na cobertura jornalística nacional.