Por Gabriel Prado
Aconteceu no último domingo (09) o “Festival Percurso – de Jardim a Jardim” na Praça do Campo Limpo reunindo empreendedores locais e artistas em uma rede de trocas econômicas e informacionais. Ao gerar renda local e desenvolvimento regional, o evento chegou a sua 5ª edição fortalecendo o empreendedorismo social através da autogestão, solidariedade, cooperação, alimentação saudável, comércio justo e consumo solidário.
Foi dado início à preparação para o festival com um ciclo de debates de empreendedores sociais da periferia. O PerifaTalks, semelhante às palestras do formato TED, possibilitou a troca de experiências entre moradores de periferias que desenvolvem iniciativas de impacto em suas regiões.
Imagem: Festival Percurso 2018
Adriana Barbosa explicou como se deu o processo de desenvolvimento da Feira Preta que em 2018 chegou à 17ª edição com um público superior a 50 mil pessoas. A produção cultural foi o tema central da palestra do fundador do Movimento Pró UPMS (Universidade Popular dos Movimentos Sociais), Rafuagi. O espaço ainda contou com Elânia Lima, psicóloga da Coletiva Roda Terapêutica das Pretas, Nayra Lays, MC e compositora, Mestre Aderbal Ashogun, Wellington Neri, Romária Sampaio, Franz Thomas e Henrique Castan.
Palco do festival
O projeto “de Jardim a Jardim” que compõe o nome do festival este ano é uma iniciativa do grupo C de Cultura que trabalha para reconectar culturalmente as distintas periferias de São Paulo ao levar em consideração a semelhança nos processos de marginalização social e de acesso a serviços públicos.
Palco do festival desde 2013, o bairro do Campo Limpo é conhecido pela presença de uma grande divisão social, com pessoas de baixa renda vivendo em favelas, residências de baixo padrão e conjuntos habitacionais populares, ao lado de condomínios horizontais e verticais de classe média e média alta. O bairro conta com poucas possibilidades de lazer e disponibilidade de cultura. Dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública de São Paulo de 2017 colocam o bairro como o 3º mais violento da capital.
Neste cenário, o Festival Percurso é uma das poucas atividades anuais de cultura produzidos com os moradores locais para desenvolver a região através do empreendedorismo social. Jovens, por meio da Agência Popular Solano Trindade, participam ativamente da preparação do evento e retornar para a comunidade seus potenciais transformadores.
Empreendedores solidários
Dispostas ao longo da Praça do Campo Limpo, as barracas dos empreendedores locais iniciaram suas vendas pela manhã antes das primeiras apresentações nos palcos montados para receberem as mais de 40 atrações que passariam por aqui ao longo do dia. O festival começou a ser pensado no início do ano pela equipe da Agência Popular Solano Trindade. Preparada para receber um público de mais de 10 mil pessoas, a equipe efetivou ao longo do dia um projeto de economia solidária transformador em mais um ano de festival.
“É necessário que as pessoas compreendam que a cultura está movimentando a periferia”, nos disse o produtor Alex Barcellos ao nos apresentar a sede da agência minutos antes da primeira atividade do dia. “Quando nós construímos novas narrativas, colocando o pessoal da periferia para gerar renda, isso altera a ordem social que a princípio colocou a gente na marginalidade econômica.”
Por meio do Festival Percurso e de outras iniciativas ao longo do ano, a agência busca entender sobre as relações de produção, consumo e comercialização de serviços, produtos e conhecimentos culturais e assim contribuir com o desenvolvimento da economia criativa local.
Em poucas horas a praça se transmuta de um espaço de lazer genérico em uma feira pulsantes a céu aberto. Os tambores do maracatu ecoam da Estrado do Campo Limpo à Rua Louis Boulanger que emolduram a praça diante do Espaço Cultural Cantinho de Integração de Todas as Artes (CITA) que recebeu a Tenda de Todos os Povos com rodas conduzidas por pais e mães de santo.
Imagem de Gabriel Prado
Augusto Cerqueira, de 52 anos, que participou do festival vendendo livros, acredita que o projeto é de grande relevância porque “muitos vendedores de livros como eu precisam ir para as regiões centrais como a Av. Paulista ou Vila Madalena fazer este mesmo trabalho que fazemos aqui. O Festival Percurso traz essa possibilidade da gente ficar no nosso quintal gerando renda para a nossa comunidade”.
Mapeando os produtos e serviços culturais e artísticos existentes na região Campo Limpo, Capão Redondo e adjacências este agente potencializa a interligação dos produtores ampliando a capacidade de circulação destes bens simbólicos e a efetiva relação entre arte, cultura e mercado.
Imagem de Gabriel Prado
A rede de empreendedores movimenta mais de 70 comerciantes locais e foi crescendo progressivamente. Jéssica Oliveira, 32 anos, é uma das novas empreendedoras desta edição. “Estou super feliz de estar aqui vendendo comida mexicana. O fato da gente ter essa diversidade de cultura implantando uma comida diferente para que as pessoas daqui tenham um acesso a uma cultura nova, sendo, ainda, por um preço justo”, declarou ao Justificando.
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