Imagem: Fernando Frazão / Agência Brasil
COLUNA FÉMINISTAS
Por Simony dos Anjos
No dia 2 de maio, publiquei um texto chamado “A ação das Igreja Evangélicas na Formação da opinião pública”, no qual eu discutia a forma como algumas igrejas se posicionam politicamente na indução de seus fiéis ao “combate ao comunismo”. Neste texto, eu apontei dois eventos nos quais a Convenção Batista Brasileira (CBB) protagonizou uma atitude conservadora e direitista em relação à política brasileira:
“na década de 1960, pouco antes de Castelo Branco assumir a Presidência, momento no qual Eneas Tognini, o então presidente da Convenção Batista Brasileira (CBB) conclamou a Igreja Batista a jejuar e orar para que Deus livrasse o Brasil da “ameaça comunista” e abençoasse o governo militar. Dentre tantas demonstrações de apoio que Igrejas Protestantes deram à Ditadura civil-militar, escolho esse episódio já que após 50 anos dessa conclamação Batista, o atual Presidente da Convenção Batista Brasileira (CBB), pastor Luiz Roberto Sivaldo, publicou nas redes sociais um vídeo convocando os evangélicos para uma campanha de jejum e oração em prol do “futuro da nossa nação e pelos juízes do STF”, em ocasião da votação do Habeas Corpus do Lula. Em outras palavras, religiosos convocam atos de Fé em prol da nação, quando, na verdade, estão conduzindo o povo para quem confiar e apoiar politicamente. E qual a grande armadilha dessa postura? Parece que não se trata de política, parece que são pessoas religiosas e que estão recorrendo a Deus para que seja feita “a vontade Dele” – uma grande mentira e uma grande cartada.”
Pois bem, entre o dias 17 e 20 de julho de 2019, a Juventude Batista Brasileira (ligada à CBB) realizou o evento Despertar, cujo a temática era: “Fé, esperança e amor”. No dia 19, haveria uma mesa chamada: “Descolonizando o olhar: O racismo atinge a igreja?”. A mesa foi cancelada por uma denúncia que acusava os convidados da mesa, Pr. Marco Davi e à Fabíola Oliveira, dois reconhecidos militantes da causa antirracista na religião Evangélica, de comunistas. Desse modo, a própria atitude da Convenção Batista Brasileira já responde a pergunta: sim. Como vimos acima a perseguição “aos comunistas” não é novidade na CBB, e vimos também que a CBB se baseia nesse bordão para calar vozes dissonantes que denunciam as posturas racistas, machistas e anti-povo da Igreja.
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Tendo em vista esse triste acontecimento, a coluna Féministas repudia essa atitude da Convenção Batista Brasileira e da Juventude Batista Brasileira. Toda solidariedade à Fabíola e ao Pr. Marco Davi. Basta de racismo, colonialismo e intolerância religiosa no meio evangélico! Não aceitaremos essas posturas violentas e racistas!
Segue a nota da Frente Evangélica Pelo Estado de Direito, coletivo do qual os envolvidos fazem parte:
É com indignação que a Frente de Evangélicos repudia o cancelamento da mesa de conversa “Descolonizando o olhar: o racismo atinge a Igreja?” no Despertar – Congresso da Juventude Batista Brasileira, que aconteceria hoje, dia 19 de julho. Os preletores da mesa, a ativista Fabíola Oliveira e o pastor batista Marco Davi de Oliveira foram desconvidados após denúncias na internet de que são crentes defensores do socialismo, pelas pautas que defendem contra o racismo, o preconceito e em favor da igualdade racial.
Essas denúncias foram acatadas pelo Conselho da Convenção Batista Brasileiro que decidiu, por meio de voto dos conselheiros, desconvidar os preletores – promovendo o desrespeito com Fabíola e Marco Davi, além da quebra de um princípio que é fundamental aos batistas: a liberdade.
A indignação da Frente de Evangélicos é o reconhecimento dos tempos sombrios que vivemos, com a censura sendo imposta, com o silenciamento de pastores e líderes, com a perseguição a membros de igrejas que ousam pensar de forma diferente do discurso homogêneo que grupos totalitários pretendem impor.
Esperamos que a Convenção Batista Brasileira reconheça a situação absurda causada com o desconvite aos preletores e o cancelamento de uma mesa que se propõe debater um problema tão grave da sociedade brasileira.
Evidente demonstração de como o racismo atinge sim, infelizmente, a Igreja Brasileira.
Simony dos Anjos é graduada em Ciências Sociais (Unifesp), mestranda em Educação (USP) e tem estudado a relação entre antropologia, educação e a diversidade.
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