Imagem: divulgação (Pretaria Black Books)
Por Morena Borba
O ano em que acompanhamos as últimas máscaras do politicamente correto caírem foi o ano em que descobrimos quem caminha lado a lado conosco. A essa altura, não importa mais quem votou em quem, nem porquê. Como povo, elegemos nosso atual presidente e, dizendo ou não seu nome, é ele quem está lá abrindo a caixa de Pandora de nossos pesadelos. Tem pra todo mundo, idosos, autistas, estudantes, trans, gestantes, agricultores, professores, empresários, gays, povos originários, cientistas, a lista segue sem fim até bater na nossa porta.
A não ser que já tenha batido, a não ser que a tal caixa nunca tenha se fechado. Para alguns, tudo isso que está acontecendo é um fenômeno inexplicável, para outros sempre foi assim. Entendemos que o brasileiro não é um povo cordial e que não se respeita como unidade, não sobrou nem pros nossos alimentos ou para o ar que respiramos. Nessa onda, vale apenas enriquecer pra termos certeza de que fomos escolhidos por Deus e mais, dar uma forcinha para os Anjos do Apocalipse levarem logo o setor ímpio da população, o que também significa sujo de acordo com certas pessoas, e inclui pessoas em situação de rua, doentes sem médicos, famílias sem água…
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É nesse cenário catastrófico que vemos a cortina de fumaça rarear e alternativas à nossa dignidade surgirem. Sim, está tendo. Mas sem ilusões, não podemos nos banhar no mesmo rio duas vezes, já dizia Heráclito. Um exemplo próximo é termos votado com mais consciência em nossas deputadas após o impeachment, a ponto de alcançarmos números inéditos de mulheres no senado, deputadas negras, as primeiras deputadas trans e a primeira deputada indígena (e as deputadas brancas também, claro). Aprendemos a lição.
Parece que a onda dura já veio e só Deus sabe quando irá embora, se é que vai, afinal sempre pode piorar. Então, no meio desse tsunami, o que importa agora é olhar ao redor e ver quem ficou. Quem, mesmo distante, permanece ao nosso lado? Quem precisa de nós? No atual paradigma de humanidade, mais do que nunca vale conferir a benfeitoria do primeiro clube literário antiracista brasileiro por assinatura, o Pretaria Black Book. Elas não precisam de nós, já atingiram sua meta, somos nós que precisamos delas – e não, infelizmente não as conheço, nem ganho nada com isso, só dignidade mesmo:
https://benfeitoria.com/ClubePretariaBlackBooks
Morena Borba é editora, revisora e crítica literária com foco em saúde intelectual
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