Imagem: Justificando / Ivy Frizo
Por Jucemir de Oliveira Vidal
Para a compreensão do mundo e da sociedade nela existente os filósofos historicamente sempre serviram como ponto de observação, eixo de referência do momento, dos processos históricos, sociais e econômicos correntes.
Os pensadores essenciais para entender esses mesmos processos sociais, econômicos, históricos nas relações produtivas, nas relações de trabalho e no próprio capitalismo pós industrial sempre foram Karl Marx, Emile Durkheim e Max Weber, considerados o tripé da sociologia. Marx fornece os conceitos de materialismo histórico, da luta de classes – aquela que é sempre negada em sua existência pelos neoliberais e bolsonaristas, mas se torna irrefutável quando a crise começa a bater na porta da classe média com um dólar a R$5,00 e um crescimento econômico que não vem na esteira das propostas de Paulo Guedes, da infraestrutura, da estrutura, da mais valia, do lucro e do eterno conflito de interesses entre burguesia e proletariado. Já Durkheim consegue sistematizar o fato social com seus três vértices de coercibilidade, generalidade, externalidade; como estamos presos na obediência destes três princípios ao vivermos em sociedade e como as sanções são existentes para quem não os cumpre. Em tempos de excludente de ilicitude, seria essencial que o líder do executivo tivesse tal noção, o que infelizmente não ocorre. Por fim Weber consegue estabelecer uma correlação primorosa entre capitalismo e religião – no Brasil de lideranças religiosas ditando regras no legislativo seu livro A ética protestante e o espirito do capitalismo se torna quase uma profecia.
Todavia apesar de toda atualidade e indispensabilidade dos três autores acima, existem na contemporaneidade três pensadores que explicam o Brasil XXI de forma indireta, mas extremamente condizente e assustadoramente semelhante com a nossa realidade política através de suas teorias sociais. São eles: Domenico Losurdo, Chantall Mouffe e Achille Mbembe.
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O primeiro – Losurdo – consegue correlacionar como as revoluções liberais não são propostas de liberdade para classes periféricas, sociedades exploradas pelo colonialismo, a exploração imperialista na América Latina e países em desenvolvimento terceiro mundistas, sua visão do marxismo permite que possam ser feitas interligações entre a exploração neoliberal na luta de classes. Sua análise consegue ser uma adaga fina na arrogância de achar que o liberalismo não merece uma contra história, o que ele faz com maestria em seus textos. Já Mbembe um filosofo camaronês consegue criar o neologismo conhecido como necropolitica que em sentido lato pode ser entendido como o direito de quem pode matar e quem deve morrer. Utilizando o conceito de racialização é mostrado como a dominação é exercida muitas vezes semelhantemente ao biopoder de Foulcaut. Sua teoria se correlaciona com Losurdo na investigação das explorações neoliberais, mas com o mérito da investigação ser na semiótica africana na perspectiva de entender o fluxo dos capitais e sua interligação com a cultura do extermínio. A correlação com nossa crise de segurança e direitos humanos é quase imediata ao ler seus escritos. Por fim Mouffe – filosofa belga pós-marxista nos apresenta os conceitos de democracia radical, conflito político e agonismo como contraponto ao antagonismo e o confronto vazio no discurso político, essa terceira teoria em tempos de extremismo, polarizações e debates ganhos no grito com conceitos rasos se faz necessária, sobretudo em crises de instituições como vivemos no Brasil atual, bem como a miserabilidade do embate político.
Esses três pensadores: Losurdo, Mbembe e Mouffe conseguem, mesmo sendo separados pelo tempo e pelo espaço fazerem uma leitura da realidade global mundial que se encaixa perfeitamente no Brasil atual, sendo por isso mesmo essenciais para o entendimento de nossa crise democrática contemporânea. Sendo incrivelmente correlacionáveis em uma linha de pensamento que demostra como o neoliberalismo e o discurso extremista muito em moda no mundo contemporâneo é um caminho sem volta para uma derrocada social e econômica.
Jucemir de Oliveira Vidal é pós-Graduado em Gestão de Recursos Humanos pela Universidade Candido Mendes, graduado em administração pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e sociologia pela Universidade do Norte do Paraná, autor do e-book: Necropolítica, Extremismo e Cidadãos de bem – entendendo as eleições de 2018.
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