Foto: Felipe Malavasi/Democratize.
Nesta quarta-feira, 25, o Facebook retirou do ar uma rede de páginas e contas usadas para divulgação de notícias falsas no Brasil. Foram 196 páginas e 87 contas desativadas que, juntas, possuíam mais de meio milhão de seguidores. Uma parte das contas excluídas era administrada por membros do grupo de extrema-direita Movimento Brasil Livre (MBL).
A ação é parte da recente política do Facebook de combate à divulgação de fake news.
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Em comunicado, a empresa de Mark Zuckerberg informou que desativou as contas e perfis por sua participação em “uma rede coordenada que se ocultava com o uso de contas falsas no Facebook, e escondia das pessoas a natureza e a origem de seu conteúdo com o propósito de gerar divisão e espalhar desinformação”.
O Facebook afirmou que apenas retirou as contas e perfis do ar após uma rigorosa investigação: a rede social tem um conjunto de ferramentas para combater a disseminação de notícias falsas.
De acordo com a empresa, cerca de 15 mil pessoas em diversos países trabalham para a revisão de conteúdos postados no Facebook. Além disso, conta com a ajuda de empresas externas de checagem de fatos e parcerias com agências governamentais.
Os perfis removidos foram verificados como sendo falsos ou enganadores, violando a política de autenticidade da empresa.
Apesar de a empresa não ter identificado as páginas ou usuários removidos, fontes ouvidas pela Agência Reuters e citadas em matéria do El País disseram que a rede era administrada por membros importantes do MBL.
Segundo fontes, a página do movimento Brasil 200, ligado ao ex-presidenciável Flávio Rocha, dono da Riachuelo, também foi excluída da rede social.
Difamações e Fake News
Fundado em 2014, o Movimento Brasil Livre ganhou destaque na mídia e nas redes sociais por fazer campanha e liderar passeatas pelo impeachment da então presidenta Dilma Rousseff, concretizado em 2016. Com personagens como Kim Patroca Kataguiri e Fernando Silva Bispo (Fernando Holiday), seu estilo agressivo de política online (e offline) ajudou a polarizar o debate no Brasil.
O conteúdo das páginas desativadas do MBL, que tinham nomes como Jornalivre e O Diário Nacional, era de cunho assumidamente conservador e voltado a criação de notícias sensacionalistas sobre política, incluindo notícias falsas e difamatórias.
Exemplo deste tipo de notícia foram, por exemplo, as manchetes infames que buscavam ofender a reputação da deputada Marielle Franco à época de seu assassinato. Uma dessas manchetes foi lembrada pelo jornalista George Marques que em sua conta no Twitter postou uma publicação do Ceticismo Político onde se lia “Desembargadora quebra narrativa do PSOL e diz que Marielle se envolvia com bandidos e é ‘cadáver comum’”:
A postagem original foi retirada do ar.
O problema de uma rede articulada de divulgação de noticias falsas é que ela consegue, muitas vezes, burlar os algoritmos das redes sociais: ao deturpar o controle compartilhado das páginas, os membros do MBL eram capazes de divulgar suas mensagens coordenadas como se as notícias viessem de diferentes veículos de comunicação independentes. Isso levava os computadores que administram os conteúdos das redes sociais a interpretarem aquelas noticias como verdadeiras e relevantes.
MPF quer explicações do Facebook sobre remoção de páginas ligadas ao MBL
Em ofício, um procurador de justiça do Ministério Público Federal de Goiás exigiu que o Facebook forneça, em até 48 horas, explicações sobre as contas e perfis removidos.
O procurador Ailton Benedito de Souza solicitou a relação de todas as páginas e perfis removidos e a “justificativa fática” específica sobre essa providência para cada exclusão. O documento foi endereçado ao “presidente do Facebook Serviços Online do Brasil”, sem nomeá-lo.
O procurador afirmou, em nota, que as normas que regulam a internet no Brasil, como O Marco Civil da Internet, visam impedir a censura e discriminação dos usuários.
Ferramentas contra Fake News
Implementada estrategicamente antes das eleições brasileiras de outubro, as ferramentas de averiguação da autenticidade de notícias e perfis são uma tentativa de evitar uma “guerra de notícias falsas” como ocorreu nas eleições americanas em 2016 – que culminaram com a eleição de Donald Trump.
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No ano passado, o Facebook reconheceu que sua plataforma havia sido usada para o que chamou de “operações de informação”: agências estrangeiras utilizaram-se de perfis falsos e outros métodos (como a divulgação em massa de notícias falsas) para influenciar a opinião pública durante a última eleição norte-americana. Agências de inteligência dos Estados Unidos afirmam, inclusive, que o governo russo esteve envolvido em tais ações.
Outras empresas de comunicação como Google e Twitter também tem implementado ferramentas de combate à noticias e perfis falsos.
No último dia 18, o Twitter lançou o perfil @fatimabot. O perfil consiste em um bot (um robô) da agência de checagem de fatos Aos Fatos que passa o dia respondendo, com notícias verdadeiras, usuários que compartilham notícias falsas.
Por Daniel Caseiro.
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