Arte: Caroline Oliveira
Com o compromisso social herdado da Teologia da Libertação e da Teologia da Missão Integral, num momento como o que vivemos, essas mulheres não poderiam ficar caladas e não se posicionarem
Por Simony dos Anjos
Como a maioria das ciências, a Teologia é feita, predominantemente, por homens. As interpretações mais aceitas da Bíblia, dos seminários aos púlpitos das Igrejas, são feitas por homens e para homens. Produzir uma teologia da perspectiva da mulher é um desafio que muitas teólogas, estudantes de teologia e biblistas têm enfrentado, e têm sido muito exitosas em suas empreitadas, pois, mesmo com a falta de apoio, com a invisibilização e com a perseguição, muitas de nós têm produzida boa teologia.
A Teologia Feminista nasce como uma teologia engajada e comprometida com a luta contra as injustiças sociais, a opressão de gênero e contra o patriarcado. Muitas de nós são isoladas, postas de lado e desencorajadas a prosseguir com uma apropriação da bíblia que visa libertar a mulher das opressões características da religião cristã. Ivone Gebara, por exemplo, teóloga brasileira de expressão, foi punida com dois anos de silêncio forçado, por partir da epistemologia teológica feminista.
Com o compromisso social herdado da Teologia da Libertação e da Teologia da Missão Integral, num momento como o que vivemos, essas mulheres não poderiam ficar caladas e não se posicionarem. Assim, reunidas escreveram um manifesto contra o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), convidando a todos cristãos e cristãs a não apoiarem o discurso de ódio promovido por tal candidato.
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Leia o manifesto abaixo na íntegra:
“Manifesto de Teólogas contra o Bolsonaro
Nós, teólogas e estudiosas da bíblia, biblistas populares, professoras de teologia e ativistas cristãs pelos Direitos Humanos, nos manifestamos contrárias ao candidato Jair Bolsonaro. Em primeiro lugar, pelo fato dele disseminar o ódio, a violência e a truculência, o que acreditamos contradizer os ensinamentos de Jesus, que era um homem pacificador.
Em segundo lugar, porque as falas, os projetos e a postura do referido candidato têm, uma a uma, atacado nossas existências e direitos das mulheres, o que nos entristece, muito. Lembramos a todo cristão e cristã, católico ou evangélico, que as Igrejas são mantidas em sua grande maioria pelo trabalho voluntário de mulheres e que todas as obreiras, ministras e diaconisas serão as maiores atingidas por Leis que possam atentar contra as vidas das mulheres.
O referido candidato, também, tem ferido a constituição – que completou 30 anos em 5 de outubro, último – quando diz que o Brasil deve ser um Estado Cristão. Como estudiosas da Bíblia, cremos que devemos separar o Estado de nossa religião, assim como Jesus nos orientou em Mateus 22. Acreditamos que um candidato que se apoia na fé para ganhar votos não seja o melhor representante para a nossa democracia. Acreditamos que ser pacífica, como Jesus foi, é denunciar o erro e a injustiça, contudo sem pregar o ódio, violência e rancor.
Acreditamos que um cristão age por princípios cristãos e nunca em nome de Deus, aliás, um Deus que tem sido descrito como um Deus vingativo. Lembramos às comunidades cristãs, que dos atributos de Deus: Verdade, Justiça, Poder e Amor, apenas o amor nos é dado por mandamento. Assim, convocamos a toda pessoa que confessa a Jesus, a levar em consideração a pessoa de Jesus e ver se o Jair Bolsonaro reflete a sua personalidade.
Por fim, juntas, oramos a oração de São Francisco, para que todo cristão possa, nesse clima de polaridade, levar paz, amor e escolher o lado dos pobres, sempre!
Senhor, fazei de mim um instrumento da Vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei que eu procure mais:
consolar que ser consolado;
compreender que ser compreendido;
amar que ser amado.
Pois é dando que se recebe,
É perdoando que se é perdoado
E é morrendo que se vive para a vida eterna!”
Para toda mulher cristã que quiser assinar esse Manifesto, basta apenas preencher o seguinte formulário clicando aqui.
Simony dos Anjos é graduada em Ciências Sociais (Unifesp), mestranda em Educação (USP) e tem estudado a relação entre antropologia, educação e a diversidade.
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